Há uma série na Netflix denominada Machos Alfa, a qual recomendamos para passar um bom bocado a rir sobre os relacionamentos. Há muito de todos nós naquelas personagens. E o que é que isto, estará um hipotético leitor deste texto a pensar, tem a ver com Sérgio Conceição e com o Futebol Clube de Porto?
Passamos a explicar. Na série há uma personagem, o Pedro, que por desígnios da evolução dos tempos passa por uma fase em que tem de se reinventar para se manter no topo. Com Sérgio Conceição passa-se o mesmo, sendo que a coisa dá-se de forma mais cíclica e tem início a 1 de julho de cada ano. A caminho de completar a sua 6ª época consecutiva como treinador do FC Porto, todos os anos é pedido ao Mister para se reinventar, por força dos elementos nucleares que vão saindo e quase nunca são substituídos por elementos de igual ou superior valia. E ele tem-no conseguido fazer, mantendo-se fiel aos seus princípios e extraindo da matéria-prima à sua disposição o máximo exequível e exigível.
Chegamos à parte nerd da coisa
Nos sistemas operativos iOS e Android, há funcionalidades que gostamos mais e outras que gostamos menos. E, a cada versão lançada, há funcionalidades que são acrescentadas e outras que são retiradas, ocorrem bugs e são lançados patches para corrigir esses mesmos bugs. Mas ao olharmos para cada um deles, facilmente reconhecemos as suas características diferenciadoras.
Por força da falta de capacidade de investimento do fabricante, ou por força da entidade reguladora do fabricante, a qualidade e quantidade dos componentes é, na sua globalidade, insuficiente face à dos seus concorrentes mais diretos, como já foi várias vezes referido pelo próprio Mister. A cada nova versão, há componentes que têm de ser descontinuados porque são muito dispendiosos de manter, ou que são vendidos a fabricantes mais poderosos. No entanto, os componentes que permanecem estão todos muito bem encaixados uns nos outros e a sua capacidade técnica e operacional é explorada ao limite e de forma exímia. Alguns deles, noutros fabricantes, já estariam bem fora da sua vida útil ou não encaixariam de todo.
O FC Porto de Sérgio Conceição assemelha-se a isto em vários aspetos. O SC 6.0 foi lançado dia 1 de julho de 2022, ainda com alguns bugs que foram sendo corrigidos e afinados ao longo dos últimos meses. Chegados a meados de fevereiro de 2023, o sistema operativo já foi galardoado com dois prémios nacionais e está na luta por outros dois.
O treinador como artesão
Como diz Óscar Cano, “um treinador é um artesão que consegue extrair dos seus jogadores coisas que nem eles sabem que têm para dar”. Fazendo jus ao seu apelido, Marceneiro, o Mister Sérgio Conceição tem conseguido, época após época, extrair de alguns jogadores coisas que quase ninguém esperaria que eles tivessem para dar. Este é um mérito que é só seu e da sua equipa técnica.
Qualquer treinador gosta de ter os melhores à sua disposição. É mais fácil ter sucesso. Mas, na prática, ser melhor nem sempre significa ser o mais adequado para o contexto em que estamos inseridos. Veja-se o caso do Paris Saint-Germain. O essencial é, com a matéria-prima que temos, conseguir que todos eles se moldem e se adequem às nossas ideias e remem para o mesmo lado.
Por isso, mesmo podendo não apreciar-se o conteúdo (estilo de liderança, ideia, modelo), terá de se dar mérito à forma (organização, crença, capacidade de superação) como este FC Porto é comandado por Sérgio Conceição há quase seis épocas.
A Sérgio, o que é de Sérgio.